5.3.06

Psiquiatra

Da janelinha sem graça da sala de espera do consultório avisto um homem. Branco, barbudo, de forma redonda e achatada. Ao julgar pelo terno, deve ser alguém importante. E importante significa ganhar bem. Na calçada oposta duas meninas uniformizadas conversando. Mesmo aqui de longe posso ouvir suas risadas. Rua com movimento intenso de carros. Pessoas indo, vindo, só não sei de onde e nem para onde. Um ônibus cheio de pessoas que eu não sei quem são. Posso tentar desvendar a vida das pessoas que vejo através da janela, mas nunca vou saber se acertei. Mesmo acreditando que todos estamos apenas a seis pessoas das outras, tenho preguiça e medo de descobrir. Prefiro dar a cor que desejo a vida. Pensar que aquele homem bem vestido é infeliz e sozinho, e vive para o trabalho. Prefiro pensar que as meninas conversando estão falando sobre rapazes, e que logo estarão magoadas pelos mesmos. Isso porque vemos o que queremos ver. Se eu não enxergasse o mundo desta maneira triste, poderia achar que o problema sou eu. E isso seria muito mais difícil.